PENSO

PENSO
LOGO EXISTO

domingo, 24 de julho de 2011

AULA 4: EXEMPLOS DE INTERPRETAÇÃO DE TEMAS

TEMAS DENOTATIVOS E CONOTATIVOS


A lógica é simples e está em sintonia com o capítulo 2 da apostila: para haver justiça no vestibular, são necessários parâmetros de comparação, ou seja, todos os candidatos devem ter os mesmo deveres para que se identifiquem os mais competentes.

Nesse caso, quem desvia do foco proposto obviamente acaba prejudicado. Diante de uma pergunta sobre o bárbaro crime ocorrido em Realengo, qual a utilidade de uma resposta – por melhor que seja – sobre a crise política no Oriente Médio?


Sobre os problemas das fugas totais ou parciais do tema nos vestibulares:


O primeiro caso (fuga total) implica nota zero, mas é relativamente raro. Isso porque temas mais abstratos – ou de difícil interpretação – normalmente têm correções mais flexíveis, em que a coerência do aluno é considerada, mesmo que ela divirja do “gabarito” da banca. O segundo caso (fuga parcial) é muitíssimo freqüente e traz prejuízos enormes: dificilmente se consegue sequer uma nota 7,0 se a abordagem do tema não for adequada.


Temas denotativos, caracterizados principalmente pelo uso do sentido literal, parecem mais simples, mas apresentam diversas armadilhas em seus pequenos detalhes. O primeiro passo é SABER a diferença entre e tema e assunto.


De fato, diante de propostas como “o poder de transformação da leitura” (Enem 2006), “o cinema como prática social” (UFRJ 2008) e “parâmetros de felicidade no cenário contemporâneo” (UFRJ 2011), muitos tendem a “simplificar” o tema. Assim, em vez de atentarem para a importância de cada palavra, escrevem redações sobre “leitura”, “cinema” e “felicidade”.


Resultado: escrevem sobre o assunto (questão ampla) em vez de abordar o tema (tópico específico dentro do assunto). Embora esse tipo de simplificação seja compreensível em muitas práticas do dia-a-dia, ela é perigosíssima no vestibular.


O caminho para isso é, então, observar os limites e os contexto da proposta. Isso fica claro em um exemplo simples: a diferença simples entre os temas “impunidade” e “impunidade na sociedade brasileira”. O primeiro é bem abrangente, que exige uma abordagem mais ampla. O segundo limita a análise a questões do Brasil, mas também determina que o aluno diversifique sua argumentação: restringir as idéias, por exemplo, à impunidade na política caracterizaria uma restrição indevida.


Alguns exemplos:


Tema 1: “Por que o brasileiro transgride as leis?”. Pela presença da expressão de comando “por que”, a banca exige hipóteses explicativas para o problema. Reparem que a existência de transgressões não está em questão, ela está pressuposta. Assim, se o aluno escreve um texto apenas comprovando que o brasileiro tem, de fato, um perfil subversivo, está caracterizada uma fuga parcial da proposta.


Tema 2: “Em que medida a globalização afeta a identidade cultural brasileira?”. A expressão de comando “em que medida” sugere uma análise da intensidade do problema. Isso que dizer que o aluno deve defender, ao longo da dissertação, quanto a globalização afeta nossa identidade: muito? Pouco? Nada? Totalmente? Explicações para o fenômeno só devem ser apresentadas na medida em que ajudarem a justificar essa resposta.


Tema 3: O que fazer para superar o problema da violência gratuita no mundo contemporâneo?”. A expressão “o que fazer” pede a apresentação de propostas de solução para um problema. O aluno deve, portanto, propor caminhos para resolver essa questão, e não argumentar sobre a sua gravidade ou simplesmente explicá-lo. É evidente que as causas da violência gratuita serão abordadas, até para justificar a validade das soluções, mas o foco de análise é outro. Dois detalhes, lembrando a primeira técnica de interpretação de temas denotativos: violência gratuita ≠ violência, e mundo contemporâneo ≠ sociedade brasileira.


Temas conotativos, caracterizados principalmente pela linguagem artística ou literária, exigem um esforço maior de abstração. São, normalmente, frases poéticas (ou filosóficas) e imagens (charges, quadrinhos etc.). Nos últimos anos, tem sido rara a preferência por temas nesse formato nas principais bancas do Rio de Janeiro, mas são recorrentes coletâneas com textos nesse formato.


O processo de interpretação desse tipo de desafio normalmente parte da análise dos indícios (concreto), para atingir o abstrato. Um exemplo a partir de um tema da Unirio:“O melhor está nas entrelinhas”.


A palavra-chave é “entrelinhas”. O aluno precisa entender, inicialmente, que as “linhas” são o que está dito, visível, aparente, explícito (na superfície). As entrelinhas são, portanto, o que está “entre as linhas”, ou seja, o que está implícito, subentendido. Nesse sentido, a dissertação deveria mostrar que a “aparência” (no seu sentido mais amplo) não é o mais importante.


Poderiam ser abordadas questões como o julgamento das pessoas pelo visual (características físicas, uso de roupas etc.), a valorização da propaganda (os rótulos, por exemplo, tornaram-se tão importantes para a venda quanto o conteúdo de um produto), a importância da demonstração de carinho sutil em relacionamentos (em comparação com a prática de dar presentes, por exemplo) etc.


Um detalhe importante: o termo “melhor” significa, literalmente, “mais bom”. Isso quer dizer que o que está “nas linhas” também é bom, só não é o “mais bom”. Logo, possíveis abordagens maniqueístas, que desvalorizassem por completo o que é explícito, teriam desconsiderado um pressuposto do tema.


Os temas conotativos costumam assustar. É preciso perceber que, com um pouco de treinamento, é possível superar esse “bloqueio” inicial. Também é fundamental notar que, apesar de a linguagem artística permitir múltiplas interpretações, isso não significa que “vale tudo”. A interpretação é um processo racional, referente ao uso de raciocínios lógicos, a partir de métodos relativamente objetivos.




Nenhum comentário: